Saúde dos médicos: jornadas exaustivas prejudicam sua saúde e atendimento
Quando penso na dedicação dos médicos, com os quais convivo, vejo pessoas apaixonadas pela vida e pela saúde, mas também me pergunto: e quem cuida de quem cuida? É inegável que as jornadas exaustivas fazem parte da rotina de muitos deles. Horas sem dormir, plantões consecutivos, encaixes na agenda de pacientes com emergências e, quando o expediente acaba, ainda existem os recados que foram deixados durante o dia e precisam de uma devolutiva. Sem esquecer de mencionar os horários extras para estudos e participação em congressos a fim de atualização. Por isso é preciso refletir sobre o impacto na saúde física e emocional desses profissionais.
Essas condições podem não afetar apenas o médico, mas também o paciente. Por exemplo, um médico com distúrbios de sono pode ter prejudicada a sua capacidade de tomar decisões rápidas e assertivas, o que aumenta o risco de erros médicos, comprometendo toda uma carreira. A saúde física também paga um preço alto. Estudos mostram que jornadas extensas estão associadas a hipertensão, distúrbios cardiovasculares e problemas relacionados ao sono.
Não tem muito tempo que presenciamos, durante a pandemia de covid-19, médicos trabalhando no limite, na verdade além dele, e com consequências devastadoras para muitos.
Por outro lado, há esperança. Diferentemente das gerações anteriores, que muitas vezes associavam longas jornadas e sacrifícios pessoais como um preço inevitável da dedicação à profissão, os médicos mais jovens têm buscado integrar práticas que favoreçam a saúde mental e a qualidade de vida.
Esse movimento não significa falta de compromisso com a medicina, mas sim uma compreensão mais ampla de que, para oferecer cuidado de qualidade, é preciso estar em equilíbrio. A exaustão crônica e o burnout, frequentemente resultantes de jornadas extensas, têm consequências diretas no desempenho clínico e na capacidade de empatia com os pacientes. Assim, os médicos mais jovens argumentam que proteger sua saúde mental e física é uma extensão do compromisso com seus pacientes e a profissão como um todo.
Além disso, muitos desses profissionais priorizam a flexibilidade de horários e buscam carreiras que permitam dedicar tempo à família, ao lazer e ao autocuidado. Eles também têm pressionado por mudanças no sistema de saúde, como a redução de plantões e a implementação de políticas de bem-estar no ambiente de trabalho. Durante a pandemia de covid-19, ficou ainda mais evidente a importância dessas práticas, já que o esgotamento foi exacerbado e muitos médicos jovens se tornaram defensores vocais de um modelo de trabalho mais humano.
Essa postura está alinhada com uma tendência cultural mais ampla, em que as novas gerações valorizam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal como um pilar para a saúde e a felicidade a longo prazo. É um passo importante para mudar a cultura da profissão médica, historicamente associada à resiliência extrema, para uma abordagem mais sustentável e compassiva, tanto para os profissionais quanto para os pacientes.
Se você é médico, saiba que cuidar de si é essencial para cuidar do outro. Por isso, estabelecer uma rotina saudável incluindo atividades físicas, noites bem dormidas, técnicas de mindfulness e alimentação equilibrada vão ajudar a manter a saúde em dia. Assim como colocamos a máscara de oxigênio no avião antes de ajudar os outros, precisamos priorizar nossa saúde para continuarmos salvando vidas com excelência.
*Texto escrito pela psicóloga Juliana Orrico (CRP-SP 06/133394), mestre em Família na Sociedade Contemporânea
Este conteúdo foi originalmente publicado em Saúde dos médicos: jornadas exaustivas prejudicam sua saúde e atendimento no site CNN Brasil.
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