Mães de bebês trocados divergem sobre o futuro das crianças
Toda essa história se desenrola no Agreste de Alagoas, nos municípios de Arapiraca, Craíbas e São Sebastião. A descoberta da troca se dá por meio de um golpe do destino. Debora Maria, de 24 anos, que mora em São Sebastião com seus dois filhos gêmeos, mas que não são idênticos, recebe a informação, por meio de uma mulher, de que em uma creche de Craíbas há um menino exatamente igual a um dos filhos dela. Uma rápida pesquisa nas redes sociais e a desconfiança ganha força.
Do outro lado dessa história está Maria Aparecida, de 28 anos. Moradora de Craíbas, ela é mãe de seis filhos, sendo Bernardo, de dois anos, o mais novo deles. O menino forte, loiro e de olhos azuis chama a atenção e se destaca nas redes sociais. Até semana passada, um vídeo dele orando na creche tinha quase 14 mil visualizações e 217 compartilhamentos no perfil da unidade escolar. Mas tantas visualizações e compartilhamentos não são, na opinião de Aparecida, somente admiração pelo menino, e sim parte da desconfiança de que ele não seja o mesmo que ela gerou.
A história das duas mulheres se cruza em fevereiro de 2022 na maternidade do Hospital Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca. No dia 21 daquele mês, Debora pariu gêmeos. Três dias depois, Aparecida deu à luz a um menino. O destino inicial das três crianças, por motivos de saúde, foi a UTI Neonatal da unidade, onde provavelmente ocorreu a troca.
Dois anos depois, Aparecida recebe uma ligação do Conselho Tutelar da cidade e é chamada até o local. Chegando lá, encontra Debora, que já havia feito exame de DNA e comprovado que os dois meninos que estão com ela não são irmãos, e que um deles não é filho dela nem do marido. A desconfiança era de que o menino de Aparecida fosse, na verdade, o gêmeo que Debora procurava.
Aparecida então aceita realizar um exame de DNA, mas, segundo ela, com uma condição: fazer em todas as crianças. E o resultado confirma o que já estava diante dos olhos: o filho dela é, na verdade, o que estava com Debora, que também estava com a criança trocada. Com o resultado, surge o dilema: o que fazer?
A promotora de Justiça Viviane Karla, que acompanha o caso, contou que as famílias chegaram a ser atendidas pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE-AL) e tentaram conciliação, o que não ocorreu. A família biológica dos gêmeos ingressou com um processo judicial onde manifesta interesse em ficar com as três crianças.
A Gazeta esteve na casa de Debora Maria na quarta-feira (11) e encontrou com ela e o esposo. Sob a sombra de uma frondosa mangueira e o olhar desconfiado de alguns bois, encontramos Suelson dos Santos, de 27 anos, que chega numa carroça carregada de macaxeira, uma das fontes de renda da família. Desconfiado, ele conta em poucas palavras que é pai de primeira viagem e reconhece que a situação que passam agora é difícil. Logo chega Débora, que se diz abalada e que não concederá entrevista. Questionada sobre como descobriu a troca de bebês, ela responde: “Deus”. Logo em seguida o casal ratifica que não quer falar. A reportagem também tentou falar com uma das advogadas da família, que não respondeu os contatos ao ser informada do tema.
No mesmo dia, em Craíbas, a 47km da casa de Debora, encontramos Maria Aparecida. Sentada na calçada de casa com a mãe e alguns parentes, ela aceita conversar na sala da casa. Enquanto conta sobre a descoberta da troca dos bebês, a entrevista é interrompida pelo choro de Bernardo, que estava acordando, mas logo se acalma no colo da mãe.
Aparecida conta que não desconfiou da troca. Ela diz que o filho ao nascer era pequeno e com pouco peso porque nasceu com oito meses. Quando pegou o filho dias depois ela ouviu que ele havia crescido e ganhado peso, o que foi aceito e até comemorado pela mãe.
Em Craíbas, Bernardo mora com mais cinco irmãos, sendo dois meninos e três meninas, duas delas gêmeas idênticas, com 12 anos de idade. Aparecida conta que a situação mexe com todos eles. “A Maria Clara é o xodó dele, quando ela sai, vai pra escola, ele até chora”, relata. Aparecida diz que o primeiro encontro foi impactante para todos. “Foi interessante! Eles se olharam, acho que pensaram ‘se parece comigo’. O Guilherme estranhou e chamava o Bernardo de Biel e as meninas diziam que não era o Gabriel e sim o Bernardo”, relata. Aparecida diz que quando pegou o filho biológico no colo sentiu “um negócio no coração”.
Questionada sobre o que pensa sobre o caso, ela expõe sua vontade: “Quero continuar com o Bernardo e também queria tá com o meu verdadeiro. Eu aceitaria se a Justiça determinasse para destrocar, mas se também determinasse um convívio entre as duas famílias”, afirma. Aparecida pontua ainda que os irmãos temem a separação e não aceitam ficar sem o irmão com quem já convivem. “Meu medo é dela conseguir ficar com os três”, finaliza.
O processo judicial acerca da guarda está “em seu estágio final” na primeira instância e, seja qual for a decisão, cabe recurso. As crianças convivem por meio de visitas. A troca é investigada em um inquérito policial que apura as responsabilidades de cada agente.
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