Teto da ‘igreja de ouro’ do Centro de Salvador desaba; templo da Primeiro de Março, no Rio, pode ser o próximo
Na tarde desta quarta-feira (05//01), parte do teto da famosa Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como a "igreja de ouro", no Centro Histórico de Salvador, desabou. É considerada uma das igrejas mais importantes da América do Sul, ponto turístico soteropolitano e protegida - ou melhor, tutelada - pelo Iphan. Na tragédia cultural, também houve tragédias humanas: uma turista paulista de 23 anos morreu e outras seis ficaram feridas. O acidente ocorreu por volta das 14h30 no templo que pertence à Ordem Terceira de São Francisco e é considerada uma das maravilhas do Brasil.
Além da Defesa Civil, equipes da Polícia também estão no local e policiais militares isolaram a área. Bombeiros seguem no local e até as 16h10, o corpo ainda não havia sido retirado. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) presta socorro aos feridos no Centro Histórico da capital baiana. Todos tiveram ferimentos leves. A pessoa que morreu é uma turista do estado de São Paulo, mas ainda não há informações sobre a identidade dela e das outras vítimas.
Considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja já enfrentava problemas estruturais há anos. Com interior revestido em ouro e trabalhado pelos mais esmerados artesãos de sua época, o templo fundado no início do século XVIII foi tombado como patrimônio cultural, porém, o reconhecimento do governo federal, que deveria garantir a proteção ao espaço, não impediu a construção de atingir uma situação degradante. Segundo informações obtidas com exclusividade pelo DIÁRIO, o Iphan buscava recursos para realizar a obra que era necessária já há algum tempo; segundo informações que circularam entre amantes da arte sacra e funcionários do próprio órgão de patrimônio, teria havido aviso formal de que a estrutura estava frágil. Mas o descaso do governo federal com o patrimônio cultural e turístico prevaleceu.
Igreja setecentista do Rio de Janeiro pode ser a "bola da vez", mas o Iphan acaba de conceder 9 anos pra que seja feita a obra
No Rio de Janeiro, um monumento igualmente importante passa por risco semelhante. Abandonada há décadas por sua proprietária - a Ordem Terceira do Carmo, que é alvo também de escândalos gravíssimos de furto e desaparecimento de arte sacra - a Igreja está infestada de cupins, tem danos estruturais e problemas elétricos que foram apontados pela última fiscalização do Iphan. Foi apontado real risco de incêndio. A belíssima e enorme Igreja da rua Primeiro de Março é considerada a 'bola da vez' por diversos especialistas em patrimônio, e além disso fica exatamente ao lado de outro patrimônio histórico de suma importância: a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, da Arquidiocese do Rio, que foi totalmente restaurada e serviu de capela real e imperial durante a monarquia.
Entre os vários problemas; infiltrações, falta de equipamentos completos de detecção e combate a incêndios, falta de sinalização contra incêndio e pânico, fissuras, trincas e rachaduras na fachada, que se encontra isolada por grades de ferro enferrujadas e amassadas, largadas pela calçada como se fossem lixo. A fiscal Catherine Gallois, do Iphan, qualificou o estado do imóvel, após vistoria, como “Péssimo“: o laudo é um filme de terror. Em vistoria do dia 7/10/2022, o Iphan já afirmava: “As fissuras que ‘cortam’ a igreja num plano vertical paralelo à fachada passando no alinhamento do primeiro módulo da galeria lateral / tribuna deverão ter suas causas investigadas. Este mesmo plano de fissuração também atinge a igreja vizinha (Antiga Sé). As fissuras estariam estabilizadas; porém, não nos constam documentos que atestem as causas, descrevam detalhadamente a extensão e características das fissuras e nem laudos que afirmem que elas estão de fato estabilizadas“.
O desabamento da famosa igreja de Salvador chama mais atenção ainda para a tragédia anunciada da Ordem Terceira do Carmo. Porém, mesmo após a opinião técnica de seus próprios fiscais, o Iphan concedeu - após interveniência do deputado federal Reimont (PT) junto ao presidente nacional do órgão Leandro Grass, segundo fontes do DIÁRIO - um inacreditável prazo de nove anos para que a Ordem realize as obras necessárias para que o templo não desabe em meio a cupins, fissuras, rachaduras e fiação exposta. "Tomara que em 9 anos a igreja esteja lá ainda", diz um ex-dirigente do órgão que preferiu não se identificar. "Mesmo fechada, podem desabar pedras e elementos de fachada nas pessoas que passam na Primeiro de Março e no Beco dos Barbeiros", adverte.
https://diariodorio.com/risco-de-incendio-ameaca-igreja-do-seculo-xviii-no-centro-alerta-iphan/
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