‘Estão acabando com as construções’, diz Fabrício Boliveira sobre Carnaval no Carmo
Baiano morando no Rio de Janeiro, Fabrício Boliveira não poderá retornar a Salvador para curtir o Carnaval da cidade neste ano, mas tem acompanhado de longe as polêmicas causadas pela preparação para a festa na capital. Em entrevista ao Alô Alô Bahia, o artista criticou a presença dos famosos bloquinhos no histórico bairro de Santo Antônio Além do Carmo.
Segundo o ator, que tem o bairro como seu refúgio desde 2016, a confirmação do Carmo como um dos circuitos oficiais do Carnaval de Salvador tem gerado transtornos que merecem ser considerados. “A poluição sonora contínua e a concentração de gente numa rua estreita estão acabando com as construções tombadas e expulsando os moradores de suas casas”, afirma.
Em meio a rotina intensa de gravações e trabalhos, Fabrício confessa que a saudade de Salvador é inevitável, mas apesar da falta que sente de sua terra natal, ele não tem dúvidas que as relações que construiu dentro e fora da Bahia, são necessárias para que ele se mantenha ainda conectado com suas raízes.
“Eu já morei 15 anos direto no Rio de Janeiro e aprendi muito sobre o meu ofício e minha vida. Tenho muitos amigos, como tenho aí em Salvador, minha cidade, que me preenche e me faz mergulhar mais em mim e na minha cultura. Estando no Rio, sempre dou um jeito de comer dendê. Trago muita coisa da feira de São Joaquim para cá”, conta.
PROTAGONISTA DE NOVELA
No ano passado, Fabrício foi anunciado como um dos protagonistas da novela “Volta Por Cima”, que tem se tornado um dos fenômenos recentes da teledramaturgia da TV Globo. Em meio a um momento onde novelas têm sofrido com baixa audiência, a trama de Claudia Souto cativou um público fiel com sua trama popular e representativa.
Para o ator, o sucesso de “Volta por Cima” é o reflexo do que o Brasil quer ver de verdade na televisão aberta. “Acho que a identificação é a chave da audiência brasileira. Se antigamente existia o sonho da vida do outro, do rico, por exemplo, hoje, ver e assistir possibilidades para “sua” própria vida gera expectativa, entusiasmo, reflexão, diversão, boas conversas e audiência”, avalia.
“Tenho visto isso com o Jão, como vi bastante com o Roberval, de Segundo Sol. Tem a ver com sentimentos humanos latentes, discussões e representações na contemporaneidade, como o afeto preto, o afeto indígena, o afeto trans, a vingança colonial, a busca pelo dinheiro, traumas e subjetividades que pouco foram mostrados do ponto de vista necessário”, completa.
A novela, inclusive, chama a atenção por seu elenco repleto de estrelas negras em papéis de destaque, como Jessica Ellen, Amaury Lorenzo e Juliana Alves. Segundo Fabrício, esse movimento, que tem sido adotado por toda a indústria do entretenimento nos últimos anos, é louvável, mas também precisa ser analisado com mais profundidade.
“Estamos ainda no início dessa tentativa de inclusão e precisamos de mais presenças e da manutenção das que já foram incluídas. Não falamos só de números, mas de melhores salários e inclusão em lugares de decisão em toda a sociedade, como mostram estudos recentes sobre cotas e diferenças salariais nas relações raciais brasileiras. Isso inclui o mercado publicitário, por exemplo. Como estão recebendo e lidando financeiramente com essas novas caras, novas atitudes e com esses consumidores sendo representados?“, questiona o ator.
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